"Apartheid" na cidade de Maceió

Todas as vias da cidade estão fechadas ou fechando.

Vivemos um verdadeiro "apartheid" na cidade de Maceió, provocado única e exclusivamente pelo trânsito, que vem sendo cultivado no caos instituído a cada dia por uma secretaria de trânsito inerte e por vezes criminosa, afinal de contas, tanto é crime fazer como omitir-se do ato.

A coisa que mais se escuta entre os moradores de cima é, que no futuro, não haverá mais qualquer sinal de integração entre a parte alta e baixa da capital alagoana, e que o melhor é que quem trabalha em riba more em riba e os de baixo em baixo, num conformismo que é característico do brasileiro e que se agrava com a nordestinidade já conhecidamente contemplativa em relação às vantagens do sul e sudeste. Parece que gostamos da merda.

Chegará o tempo em que, nós de cima, falaremos de Ponta Verde, Jatiuca, Cruz das almas como litoral. “- Nesse fim de semana vou ao litoral”, tal será a dificuldade de se locomover. Da mesma forma, os que moram em baixo, deverão peregrinar lentamente, é claro, pela Fernandes Lima, para levarem qualquer amigo ou parente ao aeroporto em Rio Largo. Ninguém escapa.

Há de se ser justo, é claro, culpando-se inicialmente o governo federal que tem por foco dar a sensação ao povo humilde de que se iguala aos mais abastados por que passou a ter quatro pneus, dois faróis e um tanque pra encher. Triste povo iludido. Mas também, há que se responsabilizar a administração pública municipal, por sua política de trânsito pobre, limitada, ao tempo em que é também agressiva e sem sentido.
Transformam vielas em avenidas, corredores de ônibus dividem espaço com carroças, burros sem rabo, ambulantes, etc..., imprensando o transeunte indefeso contra córregos, passarelas, calçadas irregulares ou qualquer outra forma de circulação que traga perigo nessa terra sem lei.

A novidade mais recente é a FAIXA AZUL, que talvez seja Azul por que o prefeito da cidade deva ser torcedor do CSA e resolvera homenagear seu clube de coração por toda extensão das turbulentas avenidas Fernandes Lima e Durval de Góes Monteiro, uma vez que a medida, tida por salvadora lá atrás, já perdera todo o sentido e encanto.

DESAPROPRIAR é verbo proibido pelos que fazem a engenharia de trânsito em Maceió. Por quanto tempo mais vão tentar fazer de vielas, ruas e de córregos, pontes? Não se faz política de trânsito, em nenhuma cidade do mundo, sem que espaços sejam desapropriados para que avenidas, viadutos, passarelas e ruas possam surgir.

O senso de serviço, algo já tão raro entre funcionários públicos, ganha tons de arrogância por detrás dos óculos espelhados dos agentes de trânsito, que se acostumaram ao ar-condicionado das viaturas. Além de arrogantes, parecem que estão sempre de férias, uma vez que raramente os vemos pelas ruas.

O transporte público imundo, quente, atrasado, velho e caro, na realidade não transporta nada além de faces infelizes, cansadas e desencorajadas. Não há um só dia em que um ônibus deixe de quebrar e pessoas sejam jogadas no meio fio. Desafiamos à prefeitura para que prove que faltamos com a verdade ao afirma isso. Nunca farão!

E agora, o mais grave dos resultados de todas as políticas incompetentes da Prefeitura de Maceió. As mortes no trânsito. Não param de chegar pelo rádio e internet relatos de pessoas que tiveram suas vidas ceifadas pela ausência de infraestrutura na cidade.
Há, inclusive, muita gente que ganha a vida, ou seja, consegue colocar o pão na mesa de seus filhos, relatando os inúmeros acidentes fatais que ocorrem em Maceió. Não é só coveiro e bispo que lucram com a morte dos outros, não.

E neste caso, nada pode tirar a responsabilidade do poder público. Perdemos filhos, filhos perdem pais, irmãos perdem amigos, vizinhos a cada dia nesse turbilhão que se chama Maceió. É necessário que amemos e falemos do amor para os nossos amados, uma vez que ao saírem pela porta não sabemos se voltarão.
Vivemos uma guerra sem armas cortantes ou pólvora.

Concluímos, sem, no entanto, trazer qualquer boa nova. Ninguém sabe o que fazer. Jornalistas, técnicos, engenheiros, servidores, prefeito e o governador vivem como se fossem os médicos da série “House”, ou seja, vivem “experimentando”. Puxam o meio-fio pra cá, levam-no pra lá, e nada sai do lugar. Qua!, qua!, qua!

A nós, só nos resta contemplar a vida que passa por fora dos vidros dos ônibus ou dos carros ou por trás da cortina de fumaça das descargas sujas, dos que insistem, que sendo indivíduos cada vez mais individuais são mais felizes.

Para Maceió!