Amados,
Durante meus longos 44
anos de vida, não consigo me lembrar de ter ficado um domingo sequer, sem estar
no meio dos irmãos da minha congregação.
Sou crente batista, aceitei
Jesus aos 8 anos, me batizei aos 11, fui presidente da classe de adolescentes,
presidi a juventude e cheguei a ser o ministro mais jovem da minha congregação,
uma das mais antigas do país. Uma vida eclesiástica intensa, não é? Pois é, havia
uma época que eu achava que o excesso gerava qualidade. Na verdade essa é uma
ideia que rodeia o povo de Deus. Um dia isso mudou em minha vida.
O que me importa dizer,
nesse momento, é, que por vezes, Deus nos fala das mais diversas maneiras e que
foi assim, que aconteceu comigo, quando assisti, pela primeira vez, ao filme,
Um Sonho de Liberdade, do diretor Frank Darabont.
O filme contava o dia a
dia de uma penitenciária norte-americana nos anos 50. Me lembro, que dentre os muitos
personagens interessantíssimos, um em especial me chamou muito a atenção no
filme. Era ele o velhinho da biblioteca.
O velhinho da
biblioteca era o preso responsável, na penitenciária, por cuidar dos livros e
distribui-lós aos detentos. Ele era muito antigo naquela prisão, já estava lá há
pelo menos 50 anos, tinha como amigo um ratinho de estimação e todos os dias passava
empurrando o carrinho, de cela em cela, oferecendo aos colegas, livros velhos
para pudessem tentar ocupar suas mentes.
Certo dia, as coisas
mudaram. Chegou a noticia de que ele deveria deixar a prisão, depois de longos anos. Deveria sair em
liberdade condicional, ou seja, ele obrigatoriamente deveria cumprir o resto da
pena fora das muralhas da prisão.
O filme segue e passados
alguns meses, seus colegas recebem a triste notícia de que ele havia se matado
em um quarto de pensão.
Lembro, que nessa cena
do filme, um outro presidiário, explicava o que havia motivado o pobre velhinho
ao suicídio, dizia: “ele estava institucionalizado”. Havia passado tantos anos
atrás dos muros daquela penitenciária que não conseguia mais se acostumar com o
mundo lá fora e preferiu tirar sua vida fora.
Sabe amigos, Deus nos
fala de maneiras, que fogem ao nosso entendimento. E essa havia sido a maneira
que Ele havia escolhido para falar a minha vida. Eu me lembro, que foi impossível
assistir aquele filme sem transportar a situação daquele velhinho para minha
vida.
Aquela mensagem batia
forte como um sino em minha cabeça. Naquele momento, Deus me fazia a seguinte
pergunta: Será que você também não está institucionalizado? Será que esse seu
mundinho perfeito não deixou você cego? Será?
E entre tantos “serás”,
comecei a perceber, que sempre fui tangido, como boi no pasto, a pensar, que meu
ideal de vida cristã limitava-se a não falar palavrão, não beber nem fumar, viver
única e exclusivamente para minha esposa e filho, ir dominicalmente a minha
congregação, dizimar e nunca recusar o que me vinha a mão para fazer. Agora,
Deus me sacudia por inteiro e provocava em mim um sentimento de estagnação
alucinante. Me sentia uma verdadeira tartaruga. Limitadíssimo.
Esse sentimento novo me
fazia pensar, que eu ainda não havia dado um passo sequer em direção a uma vida
cristã plena. Àquela vida que Ele idealizara para mim.Tinha a certeza de que
não era aquilo que Deus queria de mim.
Passei a compreender,
que durante meus 44 anos de vida, tudo pelo qual havia buscado era fácil demais
de ser alcançado. Todos os meus alvos, num passe de mágica, pareciam fáceis
demais. Naquele momento eu compreendi, que aquilo era apenas uma “capa” de bom
cristão. Passei a entender que ser
cristão é buscar, acima de tudo, o Cristo vivo, o que implicava em seguir seus passos sem arreios, e, no
meu alvo, algo muito maior do que aquilo que havia me permitido até aquele
momento.
A institucionalização espiritual
nos faz acreditar piamente, que o não beber, não fumar, não falar palavrão dentre tantas bobagens, bastam
para saciar o desejo de Deus para as nossas vidas. É como se a institucionalização
nos dissesse: “basta isso e você vai estar debaixo da vontade de Deus”.
Custei a compreender o
que Deus queria para a minha vida. Custei a entender que esses alvos, não eram
alvos divinos e sim alvos mundanos.
O Senhor me quer
seguindo o exemplo de Jesus na integralidade de sua vida. O fato de não roubar o
próximo, por exemplo, não é característica de servo do altíssimo, mas apenas a constatação
da boa educação recebida dos nossos pais.
Veja o templo. É curiosa a relação dos
crentes com o ele. O fato de ir as reuniões dominicais, pelo simples fato de
ir, é tomado por muitos, como uma característica de servo de Deus fiel. Longe disso.
A ideia de que o templo é indispensável para a nossa vida como
cristão, é vendida como se algo de milagroso existisse nisso. Não, não e não.
Deus nos quer no templo para que possamos adorá-lo e nos possamos nos fortalecer mutuamente e
nada mais que isso. Mas dentro do cristianismo institucionalizado, isso parece bem lógico.
O que quero de fato dizer é, que muitos, fazem das
tradições, coisas santificadas, assim como afirmou J.C. Ryle:
A experiência provê a dolorosa prova de que as
tradições, uma vez engendradas, são primeiramente
tidas como úteis, depois consideradas necessárias, até finalmente serem
transformadas em ídolos. Todos têm que se curvar diante delas ou haverá
punição.
Não há nada de errado
com o fato de se estar só, ou seja, você não vai deixar de ser um cristão
espetacular aos olhos de Deus, se não for a igreja. Até Jesus gostava da solidão. Lucas 6:12 diz:
E aconteceu que naqueles dias subiu ao monte a
orar, e passou a noite em oração a Deus.
Não façamos das coisas simples e insignificantes, os suprassumos de
nossas vidas.
Muitas vezes, nos cercamos de coisas terrenas, alvos mundanos para demonstramos
aos outros quão santos nós somos, e o pior, acreditamos tanto nessas coisas, que
algo que destoe do que idealizaram para a nossa vida cristã, passa a estar fora
da vontade de Deus.
O pior disso tudo é que essas coisas ainda podem nos servir de vaidade e
soberba. Agora, estarmos soberbos pelo que não nos dá trabalho? é a mesma coisa
de nos vangloriarmos de ganhar os cem metros rasos correndo pela beira da
piscina. Como se gabar disso?
Irmãos, Deus nos deu Jesus para que pudéssemos seguir seu exemplo de
vida.
No livro de Gálatas 5:1, Paulo fala em liberdade e diz assim:
Estai,
pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a
colocar-vos debaixo do jugo da servidão.
É dessa
liberdade que falo aqui.
Amados, o
evangelho deixado por Cristo é novidade e não mesmice. Devemos sempre nos colocar
á prova, na esperança de que estejamos aperfeiçoando o servo em nós.
Coloque
alvos de valor, em sua busca por uma vida de acordo com a vontade de Deus.
Verifique e
confronte tudo o que lhe disseram ser vontade de Deus e não se conforme com
nada. Nunca!
Viva um
evangelho vivo e livre, assim como o pregado por Cristo e ratificado por Paulo.
Senhor, que a minha vida seja eficaz para o teu
reino. Me faz , ó Pai, ser sempre vaso novo e útil a tua causa. Isso é o que
peço em nome de Jesus, Amém!
Soli Deo gloria
Osório
Osório